Pra quem ainda não leu, deixo o link com a primeira parte da fic:
Sedução Inocente - De Miranda Leen, adaptado por syssa-chan
e agora a parte final... a todos uma boa leitura^^
CAPÍTULO 10
Na manhã de segunda feira, Serena acordou bem disposta, com os primeiros raios de sol entrando pela janela. Estava tão feliz que mal podia se conter. Avaliou seu progresso no relacionamento com Darien e concluiu que não poderia ser melhor, considerando as circunstâncias.
Enumerou os acontecimentos em ordem cronológica e concluiu que estavam evoluindo. Darien passara da fase de "chefe exigente e carrancudo" para "amante" e, logo em seguida, atingira o posto de "amigo especial". Nada mau, pensou para si. Claro, ainda não podia dizer que eram namorados, mas talvez fosse apenas uma questão de tempo.
Ou não, admitiu com pesar. Receava que o tempo servisse apenas para confirmar que não havia lugar para outra mulher na vida dele, a não ser Rey. Precisava contar com tal possibilidade, se quisesse estar preparada para o futuro incerto que a esperava.
Espreguiçando-se, deixou-se ficar na cama por mais alguns minutos. Com um sorriso secreto, refletiu que Darien jamais poderia imaginar o bem que lhe fizera. Ele conseguira fazê-la romper o casulo em que se fechara por tantos anos, e a libertara para a vida e para o amor. Somente depois de Darien, conseguira perceber que jamais havia amado Seiya.
Não, amar era muito mais do que fazer amor aos sábados à noite, depois do cinema e do jantar. O verdadeiro amor impulsionava para a vida, realçava as qualidades e minimizava os defeitos.
Com Darien, havia descoberto que podia fazer amor à luz do dia, expondo sua nudez sem o menor constrangimento e explorando os pontos mais sensíveis de seu corpo, até então desconhecidos. Não havia do que se envergonhar. Pela primeira vez em sua vida, Serena estava em paz com sua auto-estima.
Levantou-se e tomou um banho rápido, reservando um tempo maior para se arrumar. Escolheu um vestido tubinho azul-claro, de mangas curtas, e sandálias de salto com tiras coloridas em bege, branco e azul. Secou os cabelos e aplicou uma ligeira maquiagem antes de sair.
O dia estava lindo, as pessoas pareciam lindas, e até as mínimas coisas, como encontrar um lugar vago no metrô para se sentar, conspiravam para que sua felicidade fosse completa.
Acomodou-se e abriu o jornal, disposta a ler as manchetes durante o trajeto. Porém, a notícia em letras garrafais estampada na primeira página chamou sua atenção:
Carl Toombs foge da Austrália!
Curiosa e chocada, leu a matéria com avidez, para descobrir mais um dos escândalos do magnata.
De acordo com as informações, ele finalmente fizera o que muitas pessoas já previam: havia fugido do país com o dinheiro de seus investidores, uma fortuna avaliada em dez milhões de dólares. O jornalista que escrevera a matéria informava que ele enviara o dinheiro a uma conta num banco na Suíça sob nome falso, e abandonara a família antes de embarcar para um destino ainda desconhecido. Ela observou a fotografia da esposa e filhos à frente da colossal mansão da família, notando o clássico comentário da esposa, declarando que não sabia de nada a respeito dos negócios do marido e que não tinha idéia de onde ele estava.
Serena se pôs a pensar se a assistente pessoal de Toombs teria ido com ele ou se teria desaparecido da vida do magnata… Somente o tempo diria, supôs.
E quanto a Darien? Como reagiria às notícias?
Não podia imaginar. Aquela era uma área em que não se arriscava a penetrar, especialmente depois do que Alice lhe dissera no dia anterior. Rey era um assunto proibido no universo de Darien.
Chegou ao trabalho com os nervos à flor da pele, antecipando o humor de Darien diante da notícia. Já devia saber, pois costumava ler os jornais enquanto tomava o café, no escritório, e certamente o escândalo de Toombs fora o tópico da conversa da academia, naquela manhã.
Ele já havia chegado quando ela entrou, mas a porta de sua sala estava trancada. Arrumou os papéis em cima de sua escrivaninha e foi até a copa apanhar sua habitual xícara de café, determinada a agir com a maior naturalidade possível.
Depois de tomar o café lentamente, apanhou a xícara de Darien, respirou fundo e tentou relaxar, armando-se de coragem para bater à porta do escritório, como fazia todas as manhãs.
Darien estava sentado atrás da escrivaninha, com um jornal aberto à sua frente.
— Bom dia — saudou-a com um sorriso, erguendo os olhos do periódico. — Dormiu bem?
— Muito bem, obrigada. — Ela colocou a xícara de café fumegante sobre a escrivaninha. — E você?
— Não tão bem quanto a noite passada — insinuou, fazendo-a corar.
— Li o jornal a caminho do escritório hoje, e vi a notícia sobre Carl Toombs. Você já soube? — perguntou ela, no tom mais casual que pôde. Quando viu a expressão gélida nos belos olhos azuis, ela conteve a respiração. Não ficara deprimido, como ela imaginara. Para seu horror, observou o ódio guardado nos recantos mais obscuros do coração de Darien ser destilado gota a gota. O homem doce e terno do dia anterior dera lugar a um estranho que ela mal reconhecia.
— Isso não me surpreende — comentou ele, com um sorriso de ironia. — Mesmo que esteja ainda mais milionário, a vida de Carl Toombs vai se tornar um inferno de hoje em diante. Ele terá de viver no anonimato, se não quiser ir para a cadeia, e terá de se conformar em esquecer todos os vínculos com o passado. Toombs mexeu com um vespeiro. Muitas pessoas influentes e poderosas querem sua cabeça a qualquer custo.
— Talvez ele mereça o inferno, mas tenho pena das pessoas que trabalharam para ele — Serena comentou.
— Pessoas que aceitam estar ao lado dele não são dignas de piedade.
Chocada com a frieza dos comentários, Serena entendeu de pronto a razão de tamanho rancor. Darien ainda não esquecera Rey! A felicidade que a acompanhava naquela manhã evaporou-se como gelo sob o soI.
A campainha do telefone lhe deu a desculpa perfeita para escapar da sala antes que dissesse alguma coisa que poderia fazê-la se arrepender depois. Era Alice, que acabara de saber sobre as notícias do dia no noticiário matinal da televisão.
— Você já sabe da bomba? — perguntou assim que Serena atendeu.
— Sim, vi no jornal hoje pela manhã.
— No noticiário da televisão não mencionaram nada a respeito de você sabe quem — sussurrou com cumplicidade. — Você viu alguma coisa no jornal?
— Não, nem uma linha.
— Como está Darien?
— Não sei dizer — mentiu, receando não conseguir conter as lágrimas se falasse sobre o que acabara de ver. — Quer que eu passe a ligação para ele?
— Não é preciso. Liguei também para lhe dizer que você estava muito linda ontem, Serena.
— Obrigada, Alice. Mas se continuar freqüentando sua casa, terei de fazer uma dieta! — esforçou-se para brincar, tentando esconder a angústia.
Naquele instante, a porta do corredor se abriu e a mulher mais deslumbrante que Serena já vira caminhou até sua mesa, como se tivesse saído diretamente das páginas de uma revista de moda. Os cabelos longos agitavam-se com movimentos sensuais enquanto ela andava.
Os olhos azuis, com uma maquiagem perfeita, a fitaram como se ela fosse um ser de outro planeta.
— Alice, tenho de desligar. Alguém acaba de chegar.
E não se trata de uma pessoa qualquer, concluiu de imediato. A julgar pela determinação e confiança com que entrara, não devia ser ninguém menos que Rey, em carne e osso!
— Posso ajudá-la? — indagou em tom formal, sentindo-se a última das mulheres diante daquela deusa.
Não era para menos que Darien ainda não a esquecera!
Admitiu que usava maquiagem um tanto carregada para aquela hora do dia, especialmente nos olhos, e o vestido ousado seria mais adequado para um coquetel à noite. As jóias finas que ostentava deviam valer uma fortuna, embora estivessem exageradas para o gosto de Serena. Não havia dúvida de que ela precisava de um milionário para manter tanto luxo, concluiu com uma ponta de ironia.
— Este é o escritório de Darien Chiba? — indagou ela com voz rouca e sensual.
— Sim. A quem devo anunciar?
— Rey Chiba, ex-esposa de Justin, informou ela sem nenhuma hesitação. — Você deve ser a assistente pessoal dele, não é?
— Sim.
— Entendo… — A morena fitou-a de alto a baixo. — Darien está aqui?
Antes que Serena pudesse responder, ela caminhou em direção à porta do escritório.
— Espere! Você não pode entrar aí sem ser anunciada.
— Não só posso, como vou entrar. Por favor, não faça cena. Preciso falar com Darien a sós, eu não tenho muito tempo.
— Se você disser qualquer coisa que o magoe, eu seria capaz de… — Serena apertou os dentes, contendo a fúria que crescia em seu peito. — Qualquer coisa, entendeu? Se você magoar o Darien, eu seria capaz de matá-la!
A deusa deteve-se para fitá-la com uma expressão indecifrável.
— Não se preocupe. Minha visita tem outro propósito. Só vou sair daqui depois de resolver todos os ressentimentos e mal-entendidos que assombram o passado de Darien.
Serena sentiu o chão sumir sob seus pés ao vê-la abrir a porta e entrar, deixando uma nuvem perfumada atrás de si.
Viu todas as esperanças que haviam florescido em seu coração ser arrancadas pela raiz, deixando um vazio que jamais poderia ser preenchido. Com um gesto decidido, apanhou a bolsa e saiu do escritório sem nem mesmo desligar o computador. Não havia mais razão para continuar esperando por Darien Chiba!
Darien ergueu os olhos dos papéis que lia, sobressaltando-se quando a porta se abriu de súbito. Ao ver a mulher que representava, ao mesmo tempo, seu melhor sonho e seu pior pesadelo, abriu a boca para falar, mas estava tão chocado que não conseguiu encontrar as palavras.
— Desculpe por entrar sem avisar, Darien — ela se adiantou, fechando a porta atrás de si. — Acho que sua namorada não aprovou minha atitude, mas não há nada que eu possa fazer. Diga a ela, depois que eu sair, que não pretendo interferir no relacionamento de vocês.
— Relacionamento? — Darien ecoou, com dificuldade para entender do que ela estava falando.
— Não se faça de tolo. Reika me contou a respeito de vocês dois.
Ele levou alguns segundos para identificar quem era Reika, e só então se lembrou do fim de semana no hotel, quando haviam se encontrado com Seiya e a corretora de imóveis que representava o cliente milionário.
— Nunca tive intenção de esconder meu relacionamento com Serena — ele disse em tom frio, agradecendo a si mesmo por ter mantido a compostura.
— Ela parece ser uma boa moça — Rey comentou, sentando-se na cadeira diante dele. — Vocês formam um belo par.
Darien não conseguia desviar os olhos dela. Não era a mesma mulher de quem se lembrava. Ela nunca se vestira daquela forma, nem tampouco costumava ostentar tanto luxo.
— Não quero tomar muito do seu tempo — ela disse com uma voz que ele também não reconheceu, afetada e rouca. — Tenho que ir para o aeroporto, vou me encontrar com Carl. Não me pergunte onde, e não pareça tão surpreso. Você deve ter lido os jornais desta manhã e imaginado que eu estivesse com ele.
Rey cruzou as pernas em um gesto provocante, e Darien se surpreendeu por achá-la mais vulgar do que sensual. Estava ainda mais perplexo com sua própria reação. Não entrara em pânico, nem sentira a habitual insegurança que sempre o acompanhava quando estava ao lado dela. Além disso, a mágoa que carregara durante tanto tempo parecia ter se evaporado. Não conseguia sequer odiá-la!
A mulher sentada diante dele não era sequer a sombra daquela a quem um dia havia amado. Não havia como negar que era uma bela mulher, mas era beleza que não ia além das aparências.
O que teria visto em Carl Toombs para segui-lo até o fim do mundo?
— Por quê, Rey? — indagou, ignorando o apelo sensual que ela lhe enviava. — Isso é tudo que quero saber. Por quê?
— Por quê? Achei que fosse óbvio, querido. Eu amo Carl.
— Não acho que seja assim tão simples. Você estava apaixonada por mim, e num piscar de olhos apaixonou-se por ele! O que fez com que mudasse tanto? Todos sabem que esse homem não tem caráter.
Rey pareceu pouco à vontade por um segundo, mas se recompôs de imediato.
— Ele não é como dizem. Você não o conhece tão bem quanto eu. Concordo que Carl cria suas próprias regras, mas é o homem mais excitante que já conheci. Eu… Eu não posso viver sem ele, Darien. Vou para onde ele quiser que eu vá, e farei tudo que ele me pedir.
Darien a fitou, chocado. Rey estava obcecada, mas não era uma obsessão saudável. Ao contrário, era obscura, perigosa e autodestrutiva. A linda mulher que ele amara e com quem se casara havia transformado em alguém que ele não mais conhecia.
— O que exatamente veio fazer aqui? — indagou ele, sentindo nada além de pena. — Seria muito pedir-lhe que explique a razão de sua inesperada visita?
Rey se inquietou na cadeira, hesitando antes de começar a falar.
— Vim me desculpar, Darien.
Nada que ela dissesse o deixaria mais surpreso. Darien abriu a boca para dizer alguma coisa, mas ela ergueu as mãos, num gesto decidido.
— Não fale nada, Darien. Apenas ouça, e então poderá se manifestar. — Ela respirou fundo antes de prosseguir: Tudo que lhe disse no dia em que o deixei… Meu Deus, Darien, como pude ser tão cruel? Você não merecia!
Perplexo, ele a fitou, e viu seus belos olhos marejados de lágrimas, em um sinal evidente de seu arrependimento. Não havia como duvidar que ela estava sendo sincera, concluiu sem hesitar.
— Você não imagina o remorso que sinto por ter sido tão injusta com você. Refleti por muito tempo sobre minha atitude naquele dia, e cheguei à conclusão de que estava tentando fazê-lo me odiar da mesma forma como eu me odiava por tê-lo traído. É incrível o que podemos fazer para nos defender da culpa.
Com uma risada nervosa, ela ajeitou uma mecha de cabelos e se endireitou na cadeira, enquanto Darien a fitava, boquiaberto.
— Você não fez nada de errado. Apesar de tudo, ainda me importo com você. Mas eu… eu tenho que ficar com CarI!
Grossas lágrimas riscaram o belo rosto, mas Rey se esforçou para manter a compostura.
— Sei que não adianta chorar pelo passado. Mas a verdade é que não posso mudar o rumo dos acontecimentos.
— Olhe para você, Rey! — censurou ele, em tom acusador. — Eu não a reconheço mais!
Os olhares se cruzaram, e não eram mais os mesmos olhos de que ele se lembrava.
— Você não sabe pelo que tenho passado, Darien. Mas não me arrependo de nada, a não ser de ter magoado o homem mais doce e generoso que conheci. Acredite, se eu pudesse escolher, jamais teria me separado de você. — Ela ergueu os ombros, com um sorriso triste. — Mas minha paixão por CarI tornou-se uma obsessão. Está acima de minhas forças resistir! Sei que ele não tem caráter, que não tem o menor constrangimento em mentir e prejudicar quem quer que seja… Bem, o que posso fazer? Eu sou louca por aquele impostor! Ela engoliu as lágrimas e se levantou, reassumindo a mesma altivez com que entrara. — Já lhe disse tudo que tinha para dizer. Agora, é melhor eu ir embora antes que sua assistente vá para a cadeia por assassinato!
— Do que está falando? — Darien estava se levantando para acompanhá-la, mas congelou o movimento a meio caminho.
— Quando eu cheguei, ela me avisou que, se eu dissesse alguma coisa que o magoasse, seria capaz de me matar!
— Ela disse isso?
— Sim, e posso lhe garantir que ela não estava brincando! Rey ajeitou a alça da bolsa e o fitou com ar divertido.— Não entendo por que está tão surpreso! Até mesmo um cego pode perceber…
— Você disse seu nome? — interrompeu-a, impaciente.
— Sim, mas não seria necessário. Estava escrito no brilho de seus olhos que ela já sabia quem eu era. Aliás, tive a sensação de que ela sabia muito a meu respeito. Você lhe contou?
— Não...
— Bem, ela sabe de tudo — Rey insistiu. — Acredite em mim...
Sua mãe, ele percebeu com um gemido de desgosto. No dia anterior, enquanto ele assistia ao campeonato de golfe… Ou até mesmo antes! Ele meneou a cabeça, aflito. Não queria que Serena soubesse da humilhação pela qual passara, e nem que tirasse conclusões precipitadas sobre suas atitudes. Mas o que mais o angustiava era que concordasse com suas condições sobre o relacionamento por compaixão!
— Ela nunca disse uma palavra… — balbuciou, sentindo-se derrotado.
— Mulheres apaixonadas são capazes de qualquer coisa para não magoar o homem amado.
Darien a encarou, atônito. Ela estaria certa? Serena o amava?
— Antes de ir, Darien, quero lhe dizer que você está fantástico! Eu fui uma tola… Sei que sou tola, mas meu destino está selado. Lembre-se apenas de que eu o amei um dia. Com a ponta dos dedos, ela enviou-lhe um beijo e o soprou no ar. — Case-se com esta mulher, Darien. Tenha uma família maravilhosa, com filhos lindos e sejam felizes. Você merece toda a felicidade do mundo.
Ela saiu com a mesma rapidez com que havia entrado, deixando-o sentado, com o olhar fixo na porta, como se estivesse em outro mundo.
Quando Serena fechou a porta atrás de si, deu livre vazão ao pranto que a sufocou durante o trajeto interminável do escritório à sua casa. Caindo sobre o sofá, chorou convulsivamente até que o pranto a acalmasse. Com a respiração entrecortada por soluços, levantou-se e foi para a cozinha preparar um chá. Porém, suas mãos tremiam tanto que desistiu da idéia.
Voltou à sala e se sentou no sofá para, um segundo depois, levantar-se e caminhar para o quarto.
Sem conseguir encontrar conforto em lugar algum, atirou-se sobre a cama e chorou, não o pranto desesperado e convulsivo de momentos atrás, mas um lamento sofrido, profundo, interminável… Sentou-se na cama e cobriu o rosto com as mãos. Como fora tola em acreditar que Darien pudesse amá-la! Não, fora muito mais que tola! A passiva submissão com que aceitara as condições absurdas impostas por ele estava muito além da tolice.
— Garota estúpida! — recriminou-se com severidade. — Estúpida, estúpida, estúpida!
De súbito, a melancolia que a abatera deu lugar a uma fúria crescente, feroz. Porém, não estava furiosa com Darien, e sim consigo mesma, por ter sido uma completa idiota! Primeiro, havia seduzido seu chefe e entregara-se a ele sem reservas, poucas semanas depois de assumir o cargo de assistente pessoal. Depois, como se não bastasse ter aceitado tornar-se sua amante, havia se apaixonado por ele! E o pior é que Darien nunca fizera segredo do que pretendia com ela. Sexo e companhia e nada mais!
Mina a alertara, mas estava tão apaixonada que havia ignorado as palavras da amiga. Ouvira apenas as batidas descompassadas de seu coração quando ele a tocava…
Serena respirou fundo, tentando buscar forças para reagir. Não pretendia voltar para o mesmo poço de melancolia em que estivera mergulhada quando Seiya a deixara. Darien a fizera desabrochar e descobrir uma nova força dentro de si. Poderia perder o homem que amava, mas não perderia a dignidade e o amor-próprio, decidiu, erguendo-se de um pulo.
A primeira coisa a fazer seria escrever uma carta de demissão. Com passos firmes, caminhou até a escrivaninha a um canto do quarto e abriu a gaveta, à procura de papel. Depois de escrever um texto formal e objetivo, pensou em anexar um bilhete pedindo a Darien uma carta de recomendação, mas mudou de idéia. Um bilhete seria muito pessoal, e poderia sugerir um tom de intimidade absolutamente inadequado, diante das circunstâncias. Afinal, por que precisaria de uma carta de recomendação? Seu currículo era bom o bastante para concorrer a um novo cargo, decidiu.
Estava vasculhando a gaveta à procura de um envelope quando a campainha soou com insistência. O coração de Serena perdeu o compasso ao imaginar que pudesse ser Darien. Censurando-se mais uma vez por ser uma tola incorrigível, apressou-se em atender à porta.
— Serena! Meu Deus, o que aconteceu? Eu a chamei e não tive resposta. Então, fui à recepção procurá-la e encontrei a sala vazia. Você está bem?
Serena levou alguns segundos para se lembrar de respirar. Imaginara que, àquela altura, ele estivesse fazendo amor com Rey e se esquecido do mundo.
— Ela… foi embora?
Darien franziu o cenho.
— Rey? Oh, sim! Ela foi embora. E, desta vez, para sempre!
O sorriso largo estampado em seu rosto másculo fez o coração de Serena se derreter como mel aquecido. Tudo que pensara e sentira momentos atrás lhe pareceu nada mais que um pesadelo do qual, finalmente, ela havia despertado.
— Que tal se me convidasse para entrar? — sugeriu ele, alargando o sorriso. — O que os vizinhos vão pensar ao nos ver namorando na varanda, em plena luz do dia?
Namorando? Ela abriu a boca para dizer alguma coisa, mas seus lábios foram silenciados por um beijo doce e cheio de paixão.
— É melhor entrarmos — sussurrou ela, puxando-o pela mão.
Mal acabara de fechar a porta, Darien a envolveu em um abraço transbordante de ternura.
— Vamos nos sentar, antes que eu perca o controle murmurou, conduzindo-a para o sofá. — Precisamos conversar.
Esperou que ela se acomodasse e sentou-se a seu lado, ansioso como um adolescente.
— Serena, eu…Ele se interrompeu, tentando controlar a emoção que embargava sua voz e o impedia de prosseguir. Serena o fitava, a ponto de explodir pela expectativa de ouvir as palavras que a tornariam a mulher mais feliz do planeta.
— Somente hoje me dei conta de que você entrou na minha vida para me libertar, para que eu pudesse amar novamente… Fui um tolo por não ter percebido antes! Tentei me defender dizendo a mim mesmo que precisava apenas de sexo e companhia, mas a verdade é que nunca amei alguém com tanta intensidade, Serena. Sem você, minha existência não terá sentido.
Ao contemplar os olhos ternos marejados de lágrimas, Darien sentiu o peito se inundar de alegria. Não precisou ouvir nenhuma palavra para ter certeza de que era correspondido.
— Quero me casar com você, meu amor — murmurou, mergulhando o rosto nos cabelos perfumados.
— Vamos trabalhar juntos, comprar uma casa e ter muitos filhos. Oh, e muito mais! Amo você, Serena! Muito mais do que jamais amei alguém um dia. Muito, muito mais!
Dez meses depois, Darien e Serena casaram-se em um altar arrumado sob a pérgola com primaveras em flor, no jardim da casa de Alice. Enquanto Andrew e Mina permaneciam ao lado dos noivos, durante a cerimônia, Alice cuidava do bebê, uma linda menina gorducha e rosada. Ela circulou pelo jardim com Melissa no colo até o final da esplêndida festa, dizendo aos convidados que estava praticando para cuidar dos futuros netos. Alice desistira de vender a imensa casa com seu maravilhoso jardim. Sabia que, no futuro, estaria repleta de crianças, de amor e de felicidade.